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Ansiedade na Pandemia: Sintomas e grupos mais afetados

Durante uma pandemia a saúde física e o combate dos agentes patógenos são os focos primários, assim as implicações na saúde mental (como ansiedade, por exemplo) tendem a ser negligenciadas ou subestimadas (Ornell, Schuch, Sordi e Kessler, 2020). No entanto, os impactos psicológicos podem ser mais duradouros e prevalentes que o próprio acometimento da Covid19, com ressonância em diversos setores da sociedade (Ornell, 2020). Assim, a Covid19 não traz apenas sintomas de ordem fisiológica, pode trazer sequelas emocionais para grande parte da população. Essas, em termos de doença mental podem durar anos.

Um quadro de ansiedade ou depressão não irá acabar com a Pandemia, podendo durar de alguns meses ou anos (Ribeiro Rosa, 2020 – URGS).

Segundo diversas pesquisas o medo de ser infectado pela Covid19 afeta o bem-estar psicológico das pessoas (Asmundson e Taylor, 2020; Carvalho et all., 2020). Preocupações com escacez de suprimentos, perdas financeiras também acarretam prejuízo ao bem-estar psicológico (Shojaei e Masoumi, no prelo).

Em resumo:

  1. Durante epidemias, o número de pessoas cuja saúde mental é afetada tende a ser maior que o número de afetados pelo patógeno.
  2. Implicações na saúde mental duram mais tempo  e ter maior prevalência do que a própria epidemia.
  3. Impactos psicossociais e econômicos podem ser incalculáveis e ter ressonância em diversos contextos

 (Ornell, et all., 2020).

Aumento de Doenças Mentais em Diferentes Populações:

Medidas de contenção da pandemia (isolamento social, lockdown etc) trazem risco para a saúde mental. Os efeitos dessas medidas incluem sintomas de TEPT, confusão, raiva, depressão, estresse, ansiedade, alcoolismos, violência doméstica etc (Books, et all., 2020).

Sintomas de ansiedade, depressão e estresse diante da pandemia tem sido identificados na população em geral (Wang et all., 2020) e em profissionais de saúde (Zhang et all., no prelo). Casos de suicídio ligados aos impactos psicológicos da Covid19 já foram reportados em diversos países (Goyal et all., 2020).

De acordo com uma meta análise em envolvendo estudos em  19 países 1 em cada 3 pessoas desenvolveram: transtorno de ansiedade, depressão, TEPT ou insônia durante a Pandemia de Covid19 (Escola de Medicina da Universidade de Duke, 2021). Constatou-se ainda que:

1) Intervenções como lockdows, quarentena e isolamento social estão tendo impacto desastroso no bem estar e saúde mental da população em geral.

2) Mulheres abaixo de 35 anos com baixo status socio econômico são os mais afetados

(Jafar, 2021).

Vale lembrar que de acordo com o Ministério da Saúde (2021), 30% dos brasileiros procuraram ajuda profissional por questões relacionadas a saúde mental  entre agosto e outubro de 2020.  34,2% das pessoas entrevistadas não buscaram ajuda e gostariam de ter procurado, sendo que a maior causa para buscar ajuda psicológica foi sintomas ou transtorno de ansiedade (78% das pessoas que participaram da pesquisa).

Cabe descatar, aumento do auxílio doença e aponsentadoria por invalizes devido a transtornos mentais(como transtornos de ansiedade e depressão) bateu recorde nacional graças a Pandemia de Covid19. Houve alta de 26% de pedidos em comparaçãocom o ano de 2019, bem como alta no número de concessões de 33% em comparação com o ano de 2019. (Secretaria Especial da Previdência e Trabalho, 2021).

Em outubro de 2020 a OMS alertou que a Pandemia teve um impacto devastador na saúde mental das pessoas.

                No mundo contemporâneo ninguém tem mais tempo e nem recursos financeiros para dispender com terapias que não sejam capazes de trazer resultados rápidos e eficazes. Assim, as terapias na atualidade precisam:

  1. Focada na questão apresentada pelo cliente, trazendo resultados consistentes.
  2. Breve.
  3. Produzir resultados consistentes e aumentar o bem estar em até 3 sessões afim de manter e engajar o cliente no processo terapêutico.

Aumento dos Casos de Ansiedade e Transtornos de Ansiedade Durante a Pandemia:

De acordo com a OMS o Brasil é o pais recordista mundial em casos de transtornos de ansiedade, com cerca de 9,3% da população.

Cabe ressaltar que durante a Pandemia de Covid 19, 63,3% dos psiquiatras brasileiros perceberam aumento de prescrição de psicotrópicos durante a Pandemia (ABP, 2020). E que de acordo, com uma pesquisa feita pelo IPFD (2020) para cada 100 casos de Covid19 existem 7.000 de ansiedade (IPFD, 2020). Os entrevistados relataram mais ansiedade e incômodo e menos felicidade e orgulho.

A seguir abordaremos como a ansiedade e os transtornos ansiosos estão afetando quatro grandes grupos, a saber:

População civil em geral.

Oitenta porcento (80%) na população brasileira tornou-se mais ansiosa durante a Pandemia (Schmidt, 2020 et all. – URGS). 80% da amostra estudada por Rosa (2020) relataram sintomas graves e moderados de ansiedade e 68% depressão. Conclusão: As pessoas desenvolveram ou aumentaram os sintomas relacionados a estresse, depressão e ansiedade.

Fatores como a imprevisibilidade sobre a duração da pandemia e seus desdobramentos são fatores de risco á saúde mental da população em geral (Zandifar e Badrfam, 2020). Notícias exageradas, mitos que causam desinformação. mensagens contraditórias também geram pânico (Goyal, et all., 2020).

Ansiedade em relação á saúde também pode provocar ataques de pânico(Asmundson e Taylor, 2020). A diminuição das conexões face a face, por sua vez, (devido ao fechamento de escolas e universidades, distanciamento social, loockdown etc) consistem em um estressor importante (Brooks et al., 2020; Zandir e Badrfam, 2020; Zhang, et. All, 2020), que precisa ser considerado e trabalhado afim de evitar consequência piores na saúde mental no médio e longo prazo.

Dentre as possíveis causas para desenvolvimento de Transtornos Mentais na População em Geral, temos:

  • Isolamento social (que para uma cultura relacional como a nossa é terrível);
  • Preocupação em pegar e em passar a doença para familiares, amigos e pessoas em geral;
  • Estresse (lembrando que grande parte dos Transtornos Psiquiátricos pode ser desencadeado pelo estresse agudo e\ou contínuo, e que estressores não estão faltando no atual cenário);
  • Preocupação com desemprego, renda, família etc.
  • Hiper convivência familiar;
  • Ausência de atividades de reequilíbrio, como atividades de lazer e descompressão;
  • Home office e o excesso de vídeo conferências

Cabe ressaltar que, pessoas que passam mais de 9 horas por dia conectados a smartphones, tablets, computadores etc tem risco 2x e meia maior de se queixar de tristeza, angústia, ansiedade e estresse, em comparação a quem fica 2 horas conectado (Bouer, 2020). Trocar as relações de verdade por mensagens, dormir mal por causa do excesso de estímulos eletrônicos, trocar atividade física e exposição a luz solar por horas na frente de uma tela constituem fator de risco para a saúde mental (Bouer, 2020). A maior parte da população mundial fez isto nos últimos meses.

A Terapia Cognitico Comportamental dispõe de uma série de estratégias para manejo de quadros de transtornos de ansiedade que podem ser empregadas nesse contexto, como por exemplo: Estratégias para manejar os sintomas fisiológicos da ansiedade: Relaxamento; Respiração; Mindfulness; Exposição Interoceptiva etc. Técnicas para lidar com o componente cognitivo: RDPD; Trabalho com Erros Cognitivos; Debate; Restruturação Cognitiva, Desfusão etc. E para trabalhar componente comportamental do problema: Administração estressores externos; Prescrição de Atividades; Enfrentamento; Construção de Hierarquia; Trabalho com Metas Gestão do tempo, etc .

Finalmente é importante lembrar que as estratégias de intervenções psicológicas devem ser dinâmicas e focadas em: Estressores relacionadas a doença e nas dificuldades de adaptação ás “restrições do perigo” (Zhang et all., 2020).

Ansiedade em Familiares de Portadores de Covid 19 na pandemia

Sabemos que a pandemia da Covid19 impactou o bem estar e saúde mental devido a mudanças na rotina e nas relações familiares, em especial das pessoas com familiares que contraíram a doença (tendo se recuperado ou vindo a óbito).

Podemos destacar alguns sintomas de ansiedade comuns em familiares de portadores de Covid19, como por exemplo: Insônia, preocupações (com estado de saúde do familiar ou próprio, em relação ao futuro etc), ataques de ansiedade, sintomas obsessivos e compulsivos (como, a verificação e a limpeza exagerada, que para alguns é difícil de reconhecer no atual contexto). Vale lembrar que para alguns houve uma piora de quadros de transtorno de ansiedade pré exsitentes.

Existem algumas possíveis causas para desenvolvimento de sintomas relacionados a ansiedade e a depressão em Familiares de Portadores de Covid 19, como por exemplo: Afastamento do ente querido durante a doença. A incontrolabilidade em relação a situação (não poder “ajudar”, “fazer algo pelo familiar doente”). Dificuldade de obter informação a respeito de familiares internados o estresse agudo e\ou contínuo (estamos sendo submetido a forte estresse e incontrolabilidade a mais de uma ano). Medo e preocupação com a situação do familiar doente.

Por outro lado, existem algumas estratégias para ajudar os familiares dos portadores de Covid19 a lidar com a ansiedade, como:

  1. Fornecer informação sobre a evolução de pacientes com Covid19 internados, pois as informações  ajudam a reduzir emoções negativas, como medo e ansiedade (Banerjee, 2020).
  2. Manter o foco naquilo que é possível controlar (como, por exemplo, manter e organizar uma rotina que ajude a manter a saúde mental), ao invés de focar nas coisas que não se pode controlar.
  3. Utilizar estratégias e técnicas para aumentar a resiliência e a esperança.

Profissionais da Linha de Frente.

Os profissionais da linha de frente também podem ficar ansiosos, bem como desenvolver transtornos de ansiedade durante a atual crise sanitaria, econômica, política e social. Assim, é importante que este grupo de pessoas não seja esquecido, bem como, desenvolvamos programas afim de prevenir transtornos mestais nessa população.

Durante a Epidemia de Ebola profissionais da área de saúde reportaram medo de contrair a doença, de infectar seus familiares, sofrimento por estarem afastados de seus lares, estresse, sensação de perda de controle e preocupação com o tempo de duração da epidemia (Hall, Hall e Chapman, 2008).

Os desafios enfrentados pelos profissionais da saúde pode ser um gatilho para desencadear ou intensificar sintomas de ansiedade, depressão ou estresse , em especial para aqueles da linha de frente (Bao et all., 2020).

O desencorajamento de interagir com outras pessoas, se manterem apartados de suas famílias, tempo significativo para troca e colocação de equipamentos de segurança, horas de trabalho a fio etc geram exaustão no trabalho (Zhang, et all., no prelo), podendo desencadear burnout.

De acordo com pesquisa Chinesa, as equipes de saúde passaram a observar sofrimento psicológico, irritabilidade aumentada e recusa em descançar (Chen et all., 2020). 73,4% dos médicos chineses relataram sintomas de estresse; 50,7% de ansiedade; 44,7% ansiedade e 36,1% insônia (Zhang, et all., no prelo).

Profissionais da área de saúde estão sujeitos a traumatização secundária (em função da aprendizagem vicária), onde a pessoa não sofre diretamente o trauma, mas presencia o sofrimento da pessoa traumatizada (Li et all., 2020).

Assim, a empatia pelos pacientes e pelos próprios colegas da linha de frente mau administrada pode contribuir para a traumatização secundária(Li et all., 2020). Infelizmente a grande maioria dos profissionais da linha de frente não possuem treinamento específico para lidar com situações como a que vivemos na atualidade.

Dentre os quadros mais comuns nessa população podemos destacar:

A maior parte dos profissionais de saúde que trabalha em unidades de isolamento e hospitais não é treinada para prestar atenção a sua própria saúde mental, colocando em prática medidas prolilacticas durante pandemias e nem recebe atendimento psicoterápico especializado para este fim (Ornell, 2020).

  • Sintomas de ansiedade e estresse, Burnout e TEPT (Ornell, et all., 2020). Em relação a possíveis causas para desenvolvimento de transtornos mentais em profissionais de saúde da linha de frente, podemos destacar: Traumatização Vicária; Exaustão Burnout.; Ausência de atividades de reequilíbrio; Separação do grupo familiar e de amigos; Estresse agudo e\ou temporário.

Algumas estratégias que podem auxiliar portadores de transtorno ansiedade da área de saúde durante a pandemia, dentre elas: Estratégias para trabalhar a resiliência e esperança; Técnicas para aprender a administrar emoções negativas aumentadas como: culpa, raiva, frustração e tristeza; Controle do estresse e prevenção do Burnout; Manejo da qualidade de vida em situação de crise e estratégias de enfrentamento e de autocuidado (ex: manejo do estresse descanso e autocuidado); Treinamento em resiliência.

                Finalmente, vale lembrar que, infelizmente existe uma baixa adesão ás intervenções psicológicas por meio dos profissionais da área de saúde que atuam na linha de frente, em função de falta de tempo e cansaço pela sobrecarga de trabalho sobretudo para aqueles que estão na linha de frente (Li et, all., 2020).

Pessoas que Desenvolveram Covid19 que se Recuperaram da Doença.

De acordo com a revista Lancet Psychiatry (2020), pessoas que foram infectadas na pandemia pelo Covid 19 correm maior risco de receber diagnóstico de transtornos psiquiátricos (ansiedade, depressão e insônia) de 14 a 90 dias após a doença.

Segundo pesquisa feita com 69 milhões de pessoas 18% dos recuperados desenvolveram transtornos mentais nos EUA. (Universidade de Oxford, 2020).

Pacientes infectados pela Covid19 (ou com suspeita )podem sofrer intensas reações emocionais e comportamentais, como medo, tédio, solidão, ansiedade, insônia ou raiva. Tais condições podem evoluir para transtornos de ansiedade (incluindo ataques de pânico e TEPT), depressivos, psicóticos ou paranoides, e, podem até levar ao suicídio (Ornell, et all., 2020).

Dentre as possíveis causas para desenvolvimento de transtornos mentais empPessoas que Tiveram Covid 19 e se recuperaram, encontram-se:  Isolamento e afastamento de familiares e amigos durante a doença; Preocupação em passar a doença para familiares, preocupação financeira, com o futuro; Medo da morte; Estresse exagerado – noticiais contraditórias, difusão do pânico ete. E o despreparo de alguns profissionais da área de saúde.

Existem inúmeras técnicas cientificamente comprovadas que podem ser empregadas em pacientes que tiveram Covid19 (branda, de intensidade mediana ou grave) e que se recuperaram, mas que desenvolveram alterações comportamentais e emocionais e estão sofrendo e algum transtorno mental.

Estratégias:

Abaixo destacamos algumas estratégias que podem ser empregadas com essa população que desenvolveu transtornos ansiosos específicos e\ou apenas alguns sintomas de ansiedade na pandemia devido a algumas experiencias traumáticas durante a doença.

1) Questionamento de pensamentos disfuncionais.

Identificação e Manejo de Erros Cognitivos; Técnica do Debate, Restruturação Cognitiva, Estratégias Focadas na Aceitação, Estratégias Focadas a Resiliência pessoal.

2) Empregar estratégias de rápidas para manejo de sintomas autonômicos de ansiedade.

EX: Relaxamento Muscular Progressivo (RMP), Estratégias de Biofeedback, Técnica da Contagem, Respiração Diafragmática, Respiração Profunda, Distração, Midfdullness etc.

3) Focar no que pode fazer (controlabilidade) x incontrolabilidade.

4) Manter contato (quando possível) com a rede de apoio, mesmo que de forma virtual. Atenção ao papel dos animais de estimação como coterapeutas.

5) Humanização do Tratamento:

Existem pequenos gestos e atitudes que o profissional de saúde da linha de frente (médicos e enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas) podem fazer a fim de auxiliar paciente grave, essas estratégias além de diminuir a ansiedade do mesmo tem efeito positivo no prognóstico do doente.

6) Construir metas (no sentido de enxergar uma saída mesmo diante de um cenário nebuloso e incerto) e focar no propósito de vida durante e após a doença.

7) Desenvolver a Resiliência Pessoal.

Por: Profa. Dra. Mônica Portella

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