Maurício Canton Bastos
Parece existir algum consenso de que o elogio é necessário para elevar a autoestima de nossas crianças. Mas será que é realmente assim? Já ouvi alguém dizer que o maior presente que podemos dar para nossos filhos é uma boa autoestima. Esse é um bom momento para refletirmos um pouco sobre isso.
Reforçar nossas crianças pelo bom desempenho realmente ajuda em sua motivação para o crescimento, aprendizagem e engajamento? A pesquisa de Yeager e Dweck (2012) indicou que a resposta a essa pergunta depende da forma como o elogio é dado. Elogiar talentos ou descrever a criança em termos de suas qualidades (esperto, inteligente, artístico, criativo, “the best”) pode gerar bem-estar quando o elogio é feito, mas pode gerar também efeitos não desejados, como por exemplo a necessidade de proteger as qualidades que estão sendo reveladas, e uma boa forma de protege-las é garantir que não haja o risco de perde-las. E como uma criança pode garantir que sua inteligência não seja perdida no caso de algum revés? A regra criada é simples: se ela tirar boas notas então ela é inteligente, se ela não o fizer, ela é burra. Assim não se pode tirar notas ruins. Mas como garantir isso? É algo que não depende só dela. Depende da dificuldade da prova, do professor que a corrige, de seu estado no dia da prova… Com essa regra, fazer uma prova poderá ser muito perigoso, pois coloca em risco sua inteligência.
A pesquisa de Yeager e Dweck demonstrou os perigos de dizer a um jovem que ele é talentoso. Dois grupos de crianças equivalentes em sua habilidade verbal foram solicitados a resolver uma série de problemas. Para um grupo, os pesquisadores disseram às crianças, independentemente de seus desempenhos, que elas foram talentosas na solução dos problemas. Para o outro grupo, o elogio foi de que haviam trabalhado duro. Algum tempo depois, ofereceu-se a ambos os grupos a oportunidade de solucionar quebra-cabeças fáceis ou difíceis. A descoberta interessante foi de que crianças elogiadas por seus talentos escolheram quebra-cabeças fáceis, ao passo que crianças elogiadas por seu esforço escolheram quebra-cabeças difíceis. É como se o elogio de um talento criasse a necessidade de proteger esse talento de qualquer dano, o que seria o caso de uma performance ruim. Mas a criança elogiada por seu esforço pode sempre conseguir realiza-lo, independente do resultado. Isso nos mostra uma sabedoria já bem conhecida: o processo vale mais do que o resultado.
Para orientar-nos sobre quando e como um elogio pode ser efetivo em motivar nossas crianças para o crescimento e engajamento nos desafios que a vida traz, Yeager e Dweck (2012) sugerem algumas diretrizes:
Que o dia das crianças também sirva aos pais como oportunidade de reflexão sobre como podem ser mais efetivos em ajuda-las a construir habilidades para uma vida feliz.
Maurício Canton Bastos
Yeager, D. S., & Dweck, C. S. (2012). Mindsets that promote resilience: When students believe that personal characteristics can be developed. Educational Psychologist, 47(4), 302–314.